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Setores de siderurgia e metalurgia: operando com uma logística “peso-pesado”


As características dos materiais movimentados nestes dois segmentos impõem a necessidade de uma movimentação, transporte e armazenagem de forma diferenciada em relação à logísticas de outros setores, tanto em termos de pessoal, quanto de equipamento. E a segurança se faz presente em todas as etapas.

O setor siderúrgico passa por um momento de grande transformação, onde o peso das bobinas é cada vez maior, gerando cargas indivisíveis e requerendo o uso de veículos específicos para o seu manuseio, bem como infraestrutura de terminais integrados em função dos grandes volumes movimentados.

A avaliação acima, feita por Rogério Loureiro, diretor superintendente da Transporte Excelsior, sobre as diferenças na logística nos setores de siderurgia e metalurgia em relação à de outros segmentos, dá início a esta matéria especial, integrando o tradicional guia de Operadores Logísticos e transportadores publicado pela revista Logweb.

Outro profissional do setor que também aponta as diferenças da logística nestes dois segmentos é Thiago Lima Barreto, de Novos Negócios da Rodorei Transportes. Ele diz que esses setores são de fundamental importância por fornecerem produtos semiacabados e equipamentos para outros diversos setores, sendo, então, importantíssimo um eficaz planejamento logístico, desde a produção até a entrega, para que não falte matéria-prima em indústrias de produtos acabados.

“Outro fator importante – continua Barreto – é o imenso volume produzido por esses setores, tornando cada centavo no custo logístico extremamente valioso ao final das contas. Assim sendo, é preciso um estudo criterioso em cada operação, para se obter possíveis ganhos, sem prejudicar e/ou baixar a qualidade dos serviços prestados.”

Já Abilio Neto, da diretoria da Brasiliense Cargo, destaca que estes dois setores exigem cuidados especiais para que se possa garantir o transporte da mercadoria de forma correta, exigida pela fiscalização e com a segurança que os setores de siderurgia e metalurgia necessitam para este tipo de transporte. “Estes setores requerem o manuseio das cargas com equipamentos especiais e de grande porte”, complementa Carla Ajifu, subgerente comercial da Hipercon Terminais de Cargas. De fato, Temer de Andrade Saad, diretor da Granvale Logística e Transportes, fala que, na verdade, não há nada de específico em termos de operação logística nestes dois segmentos, mas existe em termos dos equipamentos que devem ser utilizados para o transporte. “Na metalurgia, os implementos geralmente são do tipo carga seca, com desbobinadeira ou berço para transporte de bobinas, além de cintas, escoras e afins”, complementa.

A análise Márcio Basso, gerente de desenvolvimento de negócios, e de Ricardo Mendes, gerente de engenharia, ambos da Manserv Logística, segue pelo mesmo caminho. Eles salientam que as grandes diferenças da área de logística interna nestes dois segmentos em relação à de outros se referem aos equipamentos de movimentação utilizados que, geralmente, são específicos e de grande porte, já que os volumes movimentados são bem expressivos. De acordo com eles, estes segmentos têm como característica precisar de grandes investimentos em ativos para movimentação interna, o que é uma barreira à entrada de Operadores Logísticos de menor porte. Por se tratarem de operações de alta complexidade e volumes de movimentação consideráveis, existem muitas oportunidades de melhoria de processos e redução significativa de custos. Além disso, outra diferença das áreas é que o recebimento de matéria-prima e a expedição de produtos acabados, com frequência, são feitos via modal ferroviário, ainda muito pouco presente nos demais segmentos da economia.

Por sua vez, Renato Mantoani, diretor operacional e comercial da Dallogis Logística, faz uma análise diferenciada, destacando que o segmento da construção civil é um dos setores com maior crescimento de mercado e, portanto, o segmento tem uma exigência muito grande em relação a prazo de atendimento e à qualidade do atendimento.

EXIGÊNCIAS LOGÍSTICAS

Na verdade, o que está sendo apontando são as exigências específicas dos dois segmentos. Saad, da Granvale Logística e Transportes destaca: “não há necessidades específicas nestes dois segmentos. Algumas cargas, assim como em transporte de outros segmentos, exigem documentações como AET – Autorização Especial de Trânsito por excesso de comprimento e, em outros casos, de excessos laterais, onde há necessidade de batedores, etc. Isso é a característica destes segmentos”.

Mantoani, da Dallogis, diz que, quanto às exigências específicas destes setores, é necessário instrução continua dos profissionais envolvidos e cautela no manuseio dos produtos. E, com ele, concorda Carla, da Hipercon, para quem os setores requerem mão-de-obra e equipe de profissionais altamente qualificados e treinados.

Por outro lado, Barreto, da Rodorei, diz que as exigências são muitas e dependem do tipo de produto. Mas, segundo ele, de uma forma geral sempre estão ligadas com o prazo e a qualidade do serviço. “Alguns produtos não podem ser molhados, outros têm alto valor agregado e requerem maior segurança, outros necessitam de equipamentos especiais para serem entregues, etc. Mas todos os produtos devem ter em seu ciclo logístico, as entregas dentro dos prazos estipulados e com as condições dentro dos padrões”, complementa o representante da Rodorei.

Também abordando esta questão, Loureiro, da Transporte Excelsior, lembra que as exigências destes setores, em função do grande volume, são de cada vez maior utilização de frota própria bobineira, bem como investimentos em berços metálicos, terminais multimodais, maior controle através do gerenciamento de risco e normas de segurança, internas e externas, no transporte de produtos siderúrgicos.

“Uma das exigências é a preocupação com a segurança das pessoas envolvidas nestas atividades. Por se tratarem de plantas industriais de grande complexidade e produção contínua, as paradas são inaceitáveis, portanto, a disponibilidade de equipamentos de movimentação e contingências operacionais são fatores imprescindíveis nos setores”, finalizam esta questão Basso e Mendes, da Manserv Logística.

TENDÊNCIAS

E, por serem dois setores bem peculiares, como se pode perceber pelas análises feitas pelos representantes dos Operadores Logísticos e das transportadoras, quais seriam as tendências?

O diretor da Granvale fala em crescimento. Principalmente da metalurgia voltada para a construção civil, já que obras de infraestrutura serão necessárias para atender à demanda dos eventos esportivos e de melhorias na área de infraestrutura de modo geral.

A subgerente comercial da Hipercon, por sua vez, aponta para a expansão logística no segundo semestre, principalmente no setor de exportação, através de ações tomadas pelo governo, no intuito de alavancar a economia brasileira nas exportações, com redução das taxas de juros e impostos.

E Barreto, da Rodorei, elenca as tendências que mais se destacam: melhor aproveitamento dos equipamentos utilizados no processo logístico – por exemplo, maior ocupação dos veículos que transportam as cargas; procura por parceiros competentes que desenvolvam soluções específicas para cada operação; maior preocupação com a responsabilidade socioambiental; e utilização de tecnologia para controle dos processos logísticos – por exemplo, saber o tempo de carregamento e descarregamento nas fábricas e nos clientes.

“Para a Transporte Excelsior, as tendências apontam para a integração logística dos vários modais, com ferramentas inteligentes e inovadoras”, completa Loureiro.

O gerente de desenvolvimento de negócios e o gerente de engenharia da Manserv Logística salientam que estes setores têm uma carência muito grande de tecnologia de monitoramento de equipamentos e operação e testes de melhoria em sistemas computacionais e simulação. “O escoamento da produção dos setores de siderurgia e mineração é uma dificuldade constante, considerando a infraestrutura logística no Brasil. Cada vez mais, a tendência é buscar investimentos em disponibilidade e confiabilidade nos modais, principalmente ferroviário”, completam Basso e Mendes.

MUDANÇAS

Já que nos referimos às tendências, vale saber quais foram as mudanças significativas na logística destes segmentos nos últimos anos.

“O mercado atual é cada vez mais complexo e dinâmico, tanto os embarcadores, quanto aos destinatários estão cada vez mais informados e exigentes, sem falar das dificuldades e normas legislativas impostas pelos órgãos fiscalizadores”, salienta Mantoani, da Dallogis.

Barreto, da Rodorei, ressalta que ocorreram mudanças, sim, pois, antes, os embarcadores buscavam a redução de custos logísticos a qualquer preço, utilizando fornecedores sem qualquer compromisso ou qualidade. Hoje, estão vendo que com inteligência logística, planejamento e programação pode-se fazer um trabalho de alta qualidade com um custo competitivo. “Basta utilizar algumas tendências já citadas.”

“O transporte rodoviário de produtos siderúrgicos passou e passa por inúmeras transformações nos últimos tempos, em nível de desenvolvimento dos implementos rodoviários utilizados, implementação e utilização de multimodalidade, avanço de estoques em terminais mais próximos dos grandes centros consumidores e centros de serviços das usinas, possibilitando maior atendimento e viabilização do canal de distribuição junto dos clientes que não mantêm programação de compra nas usinas e fazem suas compras em menores volumes. Ou seja, o desafio do transportador rodoviário é muito grande, pois com este nível de exigência, é preciso contar com veículos com maior tecnologia e mão-de-obra em constante treinamento, além de se enfrentar pressão por tarifas mais competitivas por parte dos embarcadores”, explica o diretor superintendente da Transporte Excelsior.

Basso e Mendes, da Manserv Logística, fazem análise semelhante. De acordo com eles, muitas melhorias operacionais internas foram feitas, porém, o maior desafio continua sendo o do escoamento de produtos acabados, o que se alterou significativamente nos últimos anos. Já houve um avanço pequeno nas ferrovias, porém, muito aquém da necessidade para suportar o crescimento dos setores. Ainda existem gargalos enormes nas movimentações, tempos de transporte exagerados e custos excessivos, o que se traduz em produtividade baixa com afeto na competitividade dos dois setores no Brasil.

Carla, da Hipercon, faz sua análise pelo lado econômico. Segundo ela, as mudanças ocorreram, sim, nos últimos anos, porém neste 1º semestre houve um desaquecimento econômico muito grande nas exportações em razão da crise na Europa, principalmente com o crescimento apenas das importações e com a falta de investimentos estrangeiros nas empresas brasileiras, como, por exemplo, na tecnologia. “No 2º semestre, a esperança é de um forte aquecimento nas exportações no segmento de siderurgia e metalurgia”, acredita a subgerente comercial da Hipercon.

Mas, Saad, da Granvale, vai pelo caminho contrário e diz que não houve mudanças. “Na verdade, o que há é a sazonalidade de volume de transporte, haja vista que as vendas oscilam e a demanda por veículos maiores ou menores está diretamente ligada a isso”, completa.

Fonte: Portal Fator