Home > Notícias > Profissionais de logística: mais estratégia, menos operacional

Profissionais de logística: mais estratégia, menos operacional


Fonte: Logweb

Nesta matéria especial da revista Logweb sobre os profissionais de logística – e cujo enfoque já se tornou uma tradição no setor, tendo em vista que a sua publicação, anual, remonta ao primeiro número da revista – especialistas no assunto contam o que mudou neste último ano, se os cursos atuais têm boa qualidade e qual a importância dos programas de trainee na formação de talentos.

Como as exigências para atuar na área crescem constantemente, devido às novas tecnologias, por exemplo, a atualização é fundamental. É preciso preencher vários requisitos e ter uma visão completa das operações.

Antes de abordar o que mudou na atuação do profissional de logística, José Carlos Ferrante, professor do curso de Engenharia de Produção Mecânica do Instituto Mauá de Tecnologia, fala da evolução do conceito logístico nos últimos tempos.

No Brasil, a partir da década de 90, a logística evoluiu muito rapidamente. A empresa deixa de ser uma entidade econômica individual e passa a ser uma entidade econômica compartilhada, de um lado, com os seus clientes e, do outro, com os seus fornecedores. “Em função disso, o conceito logístico é expandido, e a logística deixa de ser considerada como transportes e distribuição para tornar-se um sistema integrado do fornecedor inicial até o cliente final, e do cliente final até o fornecedor inicial. Esse foi o passo inicial para o surgimento dos conceitos de cadeia logística, cadeia produtiva, cadeia de suprimentos e Supply Chain Management”, explica.

Um bom gerenciamento da cadeia logística pode representar uma vantagem diferencial competitiva no mercado, pois, de um lado, agrega valor ao produto via serviço ao cliente e, do outro, agrega produtividade à empresa via redução de custo. Assim sendo, as variáveis logísticas nos processos de comprar, produzir, vender e entregar estão se tornando variáveis decisórias de compras por parte dos clientes.

“O leitor já deve ter ouvido a seguinte expressão: ‘tempo é dinheiro’. Com certeza é uma expressão muito batida na linguagem comum, mas na logística e gestão da cadeia de suprimentos ela tem um significado fundamental. Não só o tempo significa custo, como também prazos extensos implicam em penalidades no serviço ao cliente. Na consideração dos custos, existe uma relação direta entre o tamanho do fluxo logístico e o estoque que fica retido nele, pois em cada dia de retenção do produto ocorrem despesas de manutenção de estoques. Na consideração dos prazos, existe uma relação entre prazos longos e respostas lentas às necessidades dos clientes ‘versus’ prazos curtos e respostas rápidas às necessidades dos clientes”, diz.

Assim – continua Ferrante –, no mercado competitivo atual, onde é cada vez maior a importância da velocidade das entregas e o serviço ao cliente, a combinação de baixos custos e curtos prazos pode significar um aumento do grau de competitividade das empresas.

“Esta evolução do conceito logístico exigiu, também, uma evolução significativa do profissional de logística. O atual profissional deve ter uma visão sistêmica da empresa juntamente com os seus clientes e seus fornecedores. Deve entender muito claramente que o aumento da produtividade da cadeia logística deve agregar valor para aquele que remunera esta cadeia, ou seja, o consumidor final”, acrescenta o profissional.

Realmente, com a globalização, maiores oportunidades surgiram para as empresas. Assim, os processos logísticos passam por mudanças a cada ano para adequação e aumento da competitividade das mesmas. “A logística vem ganhando notoriedade e conhecimento por parte da população, diferentemente da visão de ser somente relacionada a transporte, conforme ouvíamos muito em 2000, ano em que teve início o primeiro curso de bacharelado em logística no Brasil disponibilizado pela Univali (Universidade do Vale do Itajaí) em Santa Catarina, oferecendo 50 vagas e formando, em 2002, 19 bacharéis em logística. Desde então a logística vem crescendo e se profissionalizando”, explica Amarildo Nogueira, diretor de desenvolvimento e inovação da Mega Inovação Consultoria e Treinamento.

Segundo ele, por conta deste conhecimento adquirido pela grande maioria da população, não basta apenas conhecer os processos logísticos, mas, também, especializar-se na área de atuação em que se deseja trabalhar, participando de treinamentos e cursos, ter uma boa network, acompanhar o mercado e sua tendência, bem como as inovações decorrentes ou de relevância para a logística.

Nota-se que a área de logística vem se tornando cada vez mais estratégica dentro das organizações. Para muitos produtos e serviços há uma maior quantidade de alternativas disponíveis. Questões como disponibilidade de entrega e facilidade de colocação de pedidos, por exemplo, passaram a ser o diferencial que faz o cliente optar pelo fornecedor “A” ou “B”.

Sendo assim, o mercado está mais competitivo e os clientes estão mais exigentes com o nível dos serviços prestados e com o custo dos mesmos. Atividades como compras, transportes, gestão de estoques e processamento de pedidos precisam ser bem administradas, pois podem representar o sucesso ou o insucesso de uma organização.

“Por isso, penso que a atuação do profissional de logística está migrando de uma atividade focada na operação para uma atividade mais alinhada com a estratégia da organização”, acredita Hélio Meirim, professor universitário em cursos de MBA, pós-graduação e graduação, além de coordenador da Comissão de Logística do Conselho Regional de Administração, RJ.

De fato, de acordo com Fernando Guilhobel Rosas Trigueiro, coordenador do MBA em Logística da Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco/UPE, ultimamente o profissional de logística tem de ter uma visão mais ampla, ou seja, vislumbrar a Cadeia de Suprimentos como um todo. Tem de passar para uma visão mais estratégica, além da operacional, se preocupar com o cliente e a alta performance da organização.

“Essa evolução é nítida nos últimos 10 anos. Com isso, a profissionalização do setor passa a ser fundamental, e a busca de mais conhecimento se tornou uma realidade”. A opinião é de Dalva Santana, consultora na área de logística e professora do Curso de Logística da Universidade Luterana do Brasil – ULBRA Canoas e professora convidada do MBA em Gestão Empreendedora da Faculdade de Tecnologia – FTEC em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.

Com uma atuação mais abrangente, o profissional de logística também precisa de conhecimentos em Mobilidade Urbana e Logística Reversa e Desenvolvimento Sustentável, conforme salienta Osvaldo Contador Junior, professor pleno I, pesquisador e coordenador do curso superior de Tecnologia em Logística da Faculdade de Tecnologia de Jahu – FATEC JH, em São Paulo.

De acordo com Anne Gimeno, gerente de projetos da Cebralog – Centro Brasileiro de Aperfeiçoamento Logístico, o profissional de logística vem recebendo um valor diferenciado atualmente. “Apesar de o setor da logística não trazer ‘lucro’ ativo para a empresa, hoje em dia ele está sendo visto como uma grande oportunidade de redução de custos com a melhoria dos processos. Dessa forma, os profissionais da logística estão recebendo uma atenção especial e diferenciada do mercado”, acredita.

Alta demanda

De fato, segundo o professor-doutor Hugo Tsugunobu Yoshida Yoshizaki, coordenador do curso de Especialização em Logística Empresarial na Fundação Vanzolini, há maior turnover de pessoal pela alta demanda, ou seja, o mercado de trabalho de logística está muito aquecido.

Mas, há um hiato neste mercado, de acordo com Daniel Georges Gasnier, diretor da Imam Consultoria. “Estamos vivendo um ‘quase-apagão’ de talentos: faltam pessoas efetivamente qualificadas para preencher todos os cargos que as empresas estão oferecendo”, expõe.

Sobre necessidades e faltas também fala Edson Carillo, vice-presidente do Instituto ILOG – Instituo Logweb de Logística e Supply Chain, diretor da Aslog e professor de pós-graduação na FGV nas disciplinas de Operações e Serviços, Jogos e Planos de Negócios. “Com as empresas em geral experimentando um incremento de demanda, o profissional de logística tem se deparado, principalmente, com o desafio da escassez, principalmente de recursos, como equipamentos e mão de obra qualificada.”

Se for feita uma rigorosa comparação entre a importância da logística para as empresas e o nível de atuação da grande maioria dos profissionais do segmento, pode-se constatar, ao contrário do que se espera, que não tem havido mudanças expressivas nesta relação. É o que acredita Eugenio Celso R. Rocha, diretor técnico e operacional da Safemov Logística Consultoria & Treinamentos.

“Há uma significativa defasagem entre aquilo que pode e precisa ser feito no setor e aquilo que os profissionais estão realmente qualificados para fazer”. Ele cita como exemplo a gestão deficiente das operações de movimentação e armazenagem de materiais, que apresenta sinais preocupantes nos níveis de segurança e confiabilidade, além da elevação dos custos com desperdícios e retrabalho.

“Portanto, sobretudo no nível operacional, entendemos que a atuação dos profissionais de logística não tem correspondido na mesma proporção às necessidades do setor”, declara Rocha.

Já o engenheiro Jorge Domingos Junior, professor de logística pela Rodipa Consultoria, vê o profissional de logística muito mais atuante e muito mais conhecedor das técnicas inerentes à profissão, não apenas com foco em um determinado ponto isolado da cadeia logística, mas com visão total de todos os pontos importantes que afetam, de alguma maneira, o desenvolvimento da empresa.

“Em um passado não muito distante, víamos o profissional de logística exatamente como o trabalhador que tinha muito tempo de serviço na empresa ou que tinha dominado a confiança dos diretores, porém sem os conhecimentos necessários à profissão. É verdade que em algumas empresas tais acontecimentos ainda existem, mas percebemos que está mudando o cenário, favorecendo o profissional estudioso no assunto.”

Ele diz que nos cursos que oferece pela Rodipa tem notado um constante aumento de capacidade nos alunos, principalmente naqueles que já atuam e precisam constantemente de atualização.

Para Lars Meyer Sanches, coordenador executivo do curso de Especialização em Gestão da Cadeia de Suprimentos do LALT/UNICAMP, em São Paulo, está havendo a necessidade de o profissional de logística gastar mais tempo alinhando as interfaces com outras áreas da empresa (comercial, marketing, manufatura, etc.). “Isto acontece pois as decisões tomadas nesta área trazem um grande impacto no desempenho da logística. Por exemplo, a concentração das vendas no final do mês (tema por mim estudado em meu doutorado) é em grande parte provocada por decisões da área comercial e provocam um enorme impacto em todos os indicadores da logística (nível de serviço, eficiência operacional, giro dos estoques, etc.)”, declara.

Segundo Sanches, em função desta mudança, os profissionais da área precisam conhecer mais sobre as demais áreas e aprender a influenciar as suas decisões (gestão da mudança). Outro ponto fundamental – segundo ele – é ter um razoável conhecimento de finanças, pois esta é a linguagem comum nas diversas áreas da empresa.

“Com certeza, o profissional de logística tem percebido a sua real contribuição dentro das empresas, pois movimenta toda a cadeia de suprimentos. Neste período pós-crise mundial, quando teve papel preponderante, já é comum a existência do cargo de diretor de logística/Supply Chain”, analisa Laudizio Marquesi, diretor da Consulog – Consultoria Logística e membro de comitês do setor, como a NTC&Logística – Associação Nacional do Transporte de Cargas e o SETCESP – Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de São Paulo e Região.

De acordo com ele, hoje existe a busca por uma capacitação contínua, além de habilidade na utilização de ferramentas específicas e softwares na resolução de problemas das empresas, projetando cenários e soluções logísticas. “Diante destas necessidades de mercado, hoje se recrutam profissionais de logística com experiência em nível internacional. Como isto nem sempre é possível, o profissional de logística deverá estar sempre buscando conhecimentos em cursos de atualização, publicações e sites de boa qualidade, visitas e comissões técnicas ao exterior e participação em Câmaras Técnicas em sua área de atuação.”

Mauro Henrique Pereira, consultor independente, também fala da última crise global, que provocou nas empresas uma profunda reflexão em suas matrizes de custo e cadeias de suprimentos. Contratos e fornecedores começaram a ser revistos de modo a se obter o aumento ou mesmo a manutenção das receitas, uma vez verificada a queda dos níveis de consumo. Neste sentido, Pereira avalia que cresceu a importância do profissional de logística em sua especialidade de repensar os modelos, os fluxos e dar novas soluções, a fim de atingir os novos objetivos do mercado.

Na opinião de Luciano Rocha, presidente da ABEPL – Associação Brasileira de Empresas e Profissionais de Logística, o profissional hoje tem que ser muito mais generalista e extremamente flexível para atender à velocidade com que o setor se desenvolve. “A área de logística cresce cerca de cinco vezes mais do que a economia brasileira, por isso o dinamismo é imprescindível para quem atua neste setor.”

Por sua vez, Marco Antonio Oliveira Neves, diretor-presidente da Tigerlog Consultoria e Treinamento em Logística, analisa que a cobrança por resultados, principalmente pela redução de custos, tem aumentado gradativamente, e deverá se tornar o foco principal do profissional, principalmente devido ao fato de embarcadores, Operadores Logísticos e transportadoras buscarem um denominador comum para ambos.

Paulo Rago, presidente do Ceteal – Centro de Estudos Técnicos e Avançados em Logística, nota que com o crescimento das atividades econômicas de forma geral, o profissional de logística teve que aprender a atuar com recursos escassos em virtude da desconfiança de muitas empresas em investir em estrutura real. O sentimento é de espera de consolidação das atividades ainda, e, neste cenário, há um crescimento de atividades, de demandas, mas com uma estrutura ainda não condizente.

Ele diz, também, que, em virtude disto, o “logístico” tem de exercitar muito mais vezes o “tornar-se empreendedor”, pois começa a entender que deve buscar soluções diferentes a cada momento em virtude das alterações de necessidades por parte dos clientes. “Por fim, o bom profissional teve de aprender a se relacionar bem com todos os níveis da organização para garantir os resultados esperados e negociar atividades com outros departamentos.”

Para Rodrigo Sant’Anna, diretor da LTi Tecnologia (Consultoria e Treinamento), as mudanças na atuação do profissional de logística envolvem atenção ao mundo globalizado. “Hoje ele tem de estar antenado com as notícias do mundo e as oportunidades da área, sempre visitando feiras e participando de palestras específicas da área. Também tem de estar por dentro do que está sendo aplicado na empresa em que trabalha, por exemplo, estudos logísticos em transporte visando às viabilidades dos meios (aéreo, rodoviário, marítimo), aplicando em resultados os pontos positivos e negativos de cada um, conforme carga/produto/tempo de chegada ao cliente, não onerando os custos ao cliente e garantindo a rentabilidade dos negócios da empresa”, expõe.

Trainee

Cada vez mais comuns dentro das empresas, os programas de trainee têm como objetivo identificar, treinar e desenvolver jovens talentos com potenciais e competências diferenciadas para serem futuros líderes e gestores nas organizações. “Com este programa, as empresas possuem a oportunidade de realizar uma seleção com maior precisão, pois, além do perfil do cargo, é necessário que o candidato tenha identificação com a cultura da empresa”, explica Nogueira, da Mega Inovação.

“Os programas de trainee são importantíssimos para oxigenar a equipe e garantir reposição de qualidade no curto prazo, já que está cada vez mais difícil contratar bons profissionais”, declara Neves, da Tigerlog.

Realmente, para Carillo, do ILOG, na falta de pessoal qualificado, esses programas passaram a ser uma base para formação destes profissionais.

De acordo com Sant’Anna, da LTi, a ideia da execução da teoria na prática nas empresas revigora o início do profissional e, ao mesmo tempo, dá a ele a experiência para aplicações futuras.

Já Anne, da Cebralog, salienta que muitas empresas estão buscando profissionais no mercado sem muito conhecimento profissional e com certo conhecimento técnico. Dessa forma, conseguem selecionar profissionais sem manias e costumes errados, desenvolvidos em outras empresas, e os modelam de acordo com os processos da companhia.

“O programa de trainee tem por objetivo a integração e o conhecimento da empresa como um todo e, especificamente na área de logística, seria no sentido de promover com mais precisão a integração dos processos logísticos”, acrescenta a consultora e professora Dalva.

Na opinião de Rocha, da Safemov, os programas de trainee precisam ser muito bem estruturados, supervisionados e avaliados para que possam garantir os resultados desejados na formação dos profissionais de logística. “Infelizmente, apesar da grande importância destes programas no contexto logístico, apenas as grandes empresas os mantém ativos, obtendo resultados expressivos e diferenciando-se na gestão do projeto logístico e tornando-se mais competitivas no seu mercado de atuação”, declara.

Trigueiro, da Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco/UPE, diz que formar mão de obra é fundamental perante sua carência, principalmente do mercado nordestino, onde está havendo um crescimento muito grande na procura por estes profissionais. “Os programas tem de ser práticos e de curto prazo”, ressalta.

Essa carência de pessoal também é citada pelo professor Meirim. “Existe uma lacuna entre a formação acadêmica e a formação prática. Por isso, entendo que os programas de trainee possuem um papel fundamental na formação dos jovens profissionais”, expõe.

Por outro lado analisa Gasnier, da Imam Consultoria. “Vejo que as empresas já acreditaram e investiram mais nestes programas do que nos tempos atuais, talvez porque algumas delas tiveram seus investimentos frustrados pela ambição destes profissionais que, depois de preparados, buscaram capitalizar seus conhecimentos em outras empresas.”

Bons cursos?

Para Nogueira, da Mega Inovação, os cursos na área preparam bem os profissionais para o mercado. Alguns alunos enviam a ele e-mails falando das oportunidades profissionais que vêm obtendo por conta do curso que realizam. “Porém, acredito que cada curso possui um perfil e formatos diferenciados de aprendizado. Um fator de grande relevância para os cursos de logística é de que parte do corpo docente seja profissional da área, assim ele trabalhará em sala de aula com situações reais. Percebo que, aos poucos, as empresas estão se conscientizando da importância de estarem mais próximas da academia. Este fator é de grande importância para que possamos alinhar a teoria à prática”, diz.

Ainda segundo ele, o período em que os alunos passam estudando lhes proporciona uma visão geral da logística, “é onde sempre reforço a importância em definir em qual área da logística deseja-se trabalhar”. Nogueira costuma dizer que a formação em logística é como a em medicina, que forma um clínico geral. Porém, para obter maior sucesso, se faz necessário a especialização em cardiologia, pediatria, etc. Ao se formar em logística, o aluno deve escolher atuar na área de transporte, suprimentos, etc.

Na análise do professor Meirim, pela logística ser uma área em desenvolvimento, ainda existem alguns desafios que podem ser considerados ótimas oportunidades, como o desenvolvimento de uma cultura logística e a capacitação de um maior número de pessoas na área. “Vejo que, a cada ano, surgem bons cursos na área de logística, e os que já existem procuram se aprimorar ainda mais. Precisamos que as instituições de ensino continuem investindo em programas de capacitação em logística que proporcionem aos alunos uma visão teórica e prática do mundo logístico. Para isso, penso que são necessárias ações como visitas técnicas e um corpo docente de profissionais atuantes no mercado, possibilitando, assim, demonstrar aos alunos exemplos práticos de como a logística pode ser usada como um diferencial competitivo para as organizações”, expõe.

Já para Anne, da Cebralog, depende muito da instituição, do modelo de curso proposto e, claro, da vontade e dedicação do aluno. Ela explica que em cursos técnicos e de graduação, o ensino é muito mais voltado para a explicação e o entendimento da teoria em si, fazendo com que o aluno termine o curso com muita teoria e pouco conhecimento e vivência prática. Já cursos presenciais de curta duração são bem específicos e passam uma visão mais técnica e prática da teoria.

“Eu acredito que todos os cursos pregam pela excelência do conhecimento e da formação, entretanto, depende também dos profissionais buscarem sempre mais conhecimento através de uma educação continuada”, dá a dica a professora e consultora Dalva.

Gasnier, da Imam Consultoria, crê que os cursos preparam bem, mas é preciso separar o joio do trigo em termos de instituições de ensino, algumas mais acadêmicas, outras mais práticas, e outras com um conteúdo pouco efetivo. Outro fato apontado por ele é que nem sempre a escola fundamental (fundamental, médio e superior) preparou o cidadão da forma completa com que as atuais necessidades da logística exigem.

“A atualização dos profissionais em tecnologia da informação, finanças/custos e gestão de projetos, que são fundamentais para o exercício desta profissão, na média, também me parece deixar a desejar. Aqueles que dominam estes assuntos destacam-se e crescem rapidamente na carreira”, diz.

Agora o recado de Gasnier vai para o profissional formado em logística: é preciso manter-se continuamente atualizado, participando sempre de eventos. “Ninguém sabe de tudo, e sempre surgem novidades e novas formas de ver o mesmo desafio ou solução. O que pode acontecer é a falta de humildade em alguns profissionais, que julgam já saberem o suficiente, deixando de retornar à sala de aula.”

Ferrante, do Instituto Mauá de Tecnologia, diz que existem muitos cursos na área de logística, “para todos os gostos”. Entretanto, alerta para a frase “cursos na área”, porque a logística não é mais uma área ou um departamento. “A logística atual é um sistema. Existe curso no mercado que já está tratando a logística como um sistema, ou seja, formando o profissional completo. Todavia, é necessário lembrar que a pessoa interessada deve ter o perfil adequado para ser o profissional de logística”, ressalta.

E esse profissional deve entender o funcionamento sistêmico da empresa, ou seja, ter uma visão global dos processos de comprar, produzir vender e entregar. Além disso – continua Ferrante – outras características são necessárias, tais como, liderança, trabalho em equipe, capacidade de negociação e de organização, visão de projeto, busca contínua pelo resultado sistêmico, etc.

Já na opinião de Carillo, do ILOG, os cursos, a exemplo do que ocorre com programas de graduação, não têm se atualizado. “Houve uma proliferação na oferta a baixo custo, sem o devido cuidado com a qualidade do programa e, principalmente, do instrutor. Mais do que nunca, neste segmento vale a tal relação custo-benefício, nem sempre o mais caro é melhor, mas também o mais barato dificilmente é a melhor escolha”, salienta.

Concorda com ele Rocha, da Safemov. “Levando em conta a complexidade conceitual e a diversificação tecnológica pertinentes ao tema logística, tanto no âmbito gerencial como operacional, concluímos que os cursos atuais, com algumas poucas exceções, não qualificam os profissionais adequadamente.”

Segundo o diretor técnico e operacional, a grande demanda do mercado pelos profissionais de logística tem levado ao surgimento de um número cada vez maior de ofertas de cursos de logística em faculdades tradicionais e em muitas outras especialmente criadas a partir da formalização dos cursos de tecnologia com status de nível superior concedido pelo MEC.

“Esta situação apresenta dois lados distintos: há oportunidade de muitas pessoas ingressarem nesta área a partir de um curso com duração de dois anos a um custo reduzido, se comparado aos cursos superiores convencionais, mas o conteúdo apresentado e a qualidade dos profissionais formados apresentam-se como fatores questionáveis, levando-se em consideração as necessidades do mercado e o seu elevado nível de exigência e competitividade”, expõe.

Para Trigueiro, da Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco/UPE, apenas alguns cursos preparam bem. “Infelizmente algumas empresas apenas aproveitam a oportunidade, realizando cursos de baixa qualidade. Alguns MBAs têm grande aceitação pela praticidade e aplicabilidade imediata dos conceitos e técnicas aprendidos em sala”, diz.

Domingos Junior, da Rodipa, também acha que alguns cursos não preparam bem. “É muitíssimo importante que eles tenham uma visão muito prática do assunto, mesmo porque, se for para assistir a um curso essencialmente teórico, cujos conhecimentos são facilmente encontrados em ótimos livros de autores brasileiros ou de estrangeiros já traduzidos, então que o aluno leia tais livros e evite tais cursos.”

Como ex-professor de MBA de entidades da USP, ex-professor de cursos pré-vestibular e professor de logística pela Rodipa, o profissional acredita ser muito importante que os cursos ofereçam, de acordo com a grade oferecida, uma visão geral da teoria e uma apresentação, de preferência, ampla sobre como e onde se aplicam aqueles tópicos, mencionando sempre experiências vividas pelo professor ou mesmo experiências clássicas vividas por outras empresas e de domínio público.

“Em relação ao apresentador, ele deve ser formado em curso superior em escola de alto nível reconhecido, ser atuante há muito tempo no mercado e, principalmente, saber transmitir seus conhecimentos em aula de uma maneira agradável”, continua Domingos Junior.

Em algumas apresentações pelo MBA, ele contatou vários alunos, muitos deles donos de empresas, formados e com conhecimentos vastos na matéria. Indagados porque faziam aquele curso, se já possuíam outros cursos de MBA na área e também porque as aulas representavam um valor monetário muito alto, o profissional ouviu muitas respostas do tipo que se conseguissem obter uma experiência vivida em outras empresas e relatadas nos cursos e se isso servisse de lição a suas respectivas empresas, o curso já estaria pago.

Luciano, da ABEPL, acredita que os novos profissionais são parcialmente preparados. “O que vemos são muitos aventureiros que enxergaram um grande filão no mercado logístico”, expõe. Para ele, mesmo os bons cursos não atendem às exigências das empresas – dada até à velocidade com que o setor cresce. “O desafio é muito mais do profissional, em buscar conhecimento para complementar o que está disponível no mercado.”

Realmente, para Neves, da Tigerlog, para os cursos serem bons, ainda falta uma melhor combinação entre experiência prática, teoria e habilidade de transmitir tudo isso aos profissionais.

Rago, do Ceteal, salienta que apesar de os cursos serem bons, alguns cuidados são necessários. “Os tecnólogos possuem uma abordagem mais acadêmica, que é fundamental para a preparação e base conceitual do profissional. Já as pós e MBAs existentes deveriam ter uma abordagem muito mais estratégica e prática, e não é isso que vemos em muitas escolas. Os cursos de curta e média duração já têm por objetivo ofertar soluções imediatas e práticas para os profissionais”, aponta.

A conclusão – ainda segundo Rago – é que o profissional, na hora de realizar um curso, leve em consideração se ao término dele terá conseguido estas perspectivas. “Para minimizar os riscos, é importante que o aluno pergunte ao coordenador do curso antes do início: ‘ao final do curso, estarei apto a fazer o quê?”.

De acordo com Sanches, do LALT/UNICAMP, a maioria dos cursos ainda possui uma visão exclusivamente funcional, ensinando os profissionais como desempenhar bem cada função da empresa através de conceitos e ferramentas. “Apesar disto ser fundamental, não é suficiente. Hoje é preciso que o profissional entenda as relações/impactos que a decisão em uma área da logística provoca nas outras áreas (tanto da logística como de outros departamentos). São poucos os cursos que dão esta visão”, assinala.

Para o professor Yoshizaki, da Fundação Vanzolini, os cursos não preparam bem o profissional. “A necessidade de compreensão do negócio junto com a capacidade analítica para balancear custos e nível de serviço não é comum no mercado de cursos de logística. Normalmente se enfatiza somente a parte business.”

A mesma opinião divide Marquesi, da Consulog. “Há muitos cursos que não estão preparados para ensinar logística. Fala-se muito em falta de mão de obra qualificada, mas também temos pouca mão de obra qualificada em nível de docência. A teoria só é viável na prática, ou seja, os docentes têm que ter o mix entre teoria e prática.”