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Federações das Indústrias dos Estados da Amazônia Legal promovem revolução logística


Fonte: Portal Fator

Projeto Norte Competitivo, patrocinado pela CNI, traz plano estratégico para transporte de carga, com mapeamento completo da atual infraestrutura da região, e aponta quais são os eixos de transportes intermodais que devem receber investimentos e quais as obras prioritárias.
 
A implantação de uma infraestrutura logística, englobando todos os modais de transportes (ferrovias, hidrovias, rodovias e portos), é uma das maiores demandas do setor produtivo brasileiro e será um dos grandes desafios do próximo governo. Pela primeira vez, surge um estudo aprofundado, o Projeto Norte Competitivo, indicando quais são os eixos de integração de transportes e quais as obras prioritárias demandadas. O estudo, que demandou mais de um ano, foi encomendado à consultoria Macrologística pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), por meio da Ação Pró-Amazônia, que engloba as Federações das Indústrias dos nove Estados que compõem a Amazônia Legal (Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins).
 
Trata-se de um estudo único, que analisa a complexa realidade socioambiental e geográfica da região e propõe a implementação de uma infraestrutura de transporte – baseada em eixos de desenvolvimento – que forme um sistema de logística integrado, sem fronteiras estaduais, e intermodal, privilegiando aqueles de menor custo. “Outro ponto fundamental é que obtivemos a união de todas as Federações das Indústrias da região. Não tenho dúvidas de que esse projeto vai revolucionar a logística não só da região como de todo o país. Precisamos unir esforços para trazer desenvolvimento sustentável para a Amazônia Legal e, por consequência, para o Brasil”, afirma José Conrado Santos, vice-coordenador da Ação Pró-Amazônia e presidente da Federação das Indústrias do Pará (Fiepa). O dirigente lembra também que o Projeto Norte Competitivo recebeu total respaldo da CNI, presidida por Robson Braga de Andrade, também pelo potencial de integração nacional, já que as análises levaram em consideração eixos de transportes nacionais e internacionais (saída pelo Oceano Pacífico e pelo Caribe).
 
O Projeto Norte Competitivo aponta quais são os nove eixos de integração prioritários que permitirão reduzir os custos logísticos da Amazônia Legal, aumentando a competitividade da região (ver quadro). Para viabilizar o desenvolvimento desses eixos principais, são necessários investimentos da ordem de R$ 14,1 bilhões. A estimativa de economia no custo de logística total da Amazônia Legal, que atualmente está em R$ 17 bilhões e que chegará em R$ 33,5 bilhões com o volume de produção previsto para 2020, alcançará R$ 3,8 bilhões anuais. Ou seja, o investimento total previsto se pagaria em menos de quatro anos com as economias obtidas.
 
De acordo com o engenheiro Renato Pavan, sócio da Macrologística, que já desenvolveu projetos similares para Goiás, Minas Gerais e Espírito Santo, além de Santa Catarina, a estratégia foi identificar os sistemas de logística de menor custo, compostos por grandes eixos de transporte intermodais que pudessem tornar a Amazônia Legal mais competitiva. “Mapeamos as 16 principais cadeias produtivas, responsáveis por 95% da produção local e 98% de tudo o que é exportado ou importado pela região, e também projetamos o aumento da produção até 2020. A situação hoje já é ruim. Temos que investir fortemente em infraestrutura para suportar o crescimento da produção até 2020 e também nos tornarmos mais competitivos, por meio da redução do custo”, explica. A análise das cadeias produtivas englobou mais de 50 produtos diferentes, que foram mapeados e projetados em âmbito municipal e para os quais foram feitas matrizes origem-destino, já que isso influencia no custo de transporte.
 
Uma equipe de mais de dez pessoas trabalhou em tempo integral no levantamento completo da atual infraestrutura da Amazônia Legal. Portos, aeroportos, armazéns, hidrovias, ferrovias, dutovias e rodovias de uma região quase do tamanho da Europa foram mapeados e tiveram suas condições de uso analisadas, com a identificação das obras necessárias para modernização e ampliação. “Chegamos a 151 obras necessárias: 112 em eixos no Brasil e 39 em eixos internacionais. Para realizar todas essas obras, seriam necessários R$ 51,8 bilhões, dos quais R$ 45,8 bilhões em território nacional. O país não tem condições de investir esses recursos de uma só vez. Por isso, é preciso priorizar os projetos estruturantes com base em uma análise sistêmica dos fluxos de transporte”, comenta Olivier Girard, sócio da Macrologística e responsável direto pelo projeto. Assim, foi possível identificar quais eram os principais gaps de infraestrutura, que necessitariam de investimentos prioritários.
 
Identificados os locais de produção, os tipos de produtos e o destino final, foi possível traçar as principais rotas de escoamento. Nessa etapa, um modelo otimizador desenvolvido especialmente para o projeto identificou os eixos de transportes mais eficientes (mais rápidos e baratos). Esse software analisou 32 origens, 38 destinos e 33 diferentes tipos de produtos que se utilizam de uma malha logística composta por 932 rotas de ligação entre as diferentes origens e destinos. Foram também imputados parâmetros de custos de frete interno, transbordo, tarifas portuárias e frete marítimo para todo o tipo de transporte (hidro, ferro, aéreo, rodo, portos, aeroportos) e carga (granel agrícola, granel mineral, carga geral, granel líquido, contêineres). Assim, foram identificados 42 eixos de integração de transporte, incluindo 13 eixos internacionais. Cada um deles teve sua competitividade analisada. Desse total, 32 geraram economias significativas. A hidrovia Juruena/Tapajós, por exemplo, foi a que apresentou maior potencial de redução no custo logístico, tanto com o volume de produção de 2008 (economia anual de R$ 921 milhões) quanto na projeção para 2020 (R$ 1,857 bilhão).
 
A partir das informações dos eixos de transporte mais eficientes e também das obras necessárias para a modernização/implementação/ampliação desses corredores intermodais, passou-se à próxima etapa, que colocou uma variável fundamental: o custo das obras, para encontrar o retorno sobre o investimento. Levou-se em consideração também o estágio atual das construções. Algumas precisariam começar do zero. Em outras já foram feitos investimentos.
Quando se fala de infraestrutura, no entanto, não é possível analisar somente questões financeiras. Impacto no meio ambiente, ainda mais em uma região tão importante quanto a Amazônia, possibilidade de integração regional e potencial de desenvolvimento socioeconômico também foram levados em consideração. Cada uma dessas mais de 150 obras de infraestrutura listadas ganhou notas conceituais após o estudo dos impactos ambientais, dos benefícios sociais, da integração regional e do potencial de geração de empregos e tributos. Eficiência gera menos impacto no meio ambiente. A relação de emissão de monóxido de carbono é de 1 para hidrovia, 10 para ferrovia e 50 para rodovia. Como, nos dias de hoje, o transporte da produção da região é realizado, em grande parte, por rodovias precárias, sem qualquer condição de uso, o aprimoramento do sistema de transporte vai automaticamente se traduzir na mitigação do impacto ambiental, com o tratamento adequado de todos os problemas.
 
Com dados sobre retorno de investimento e também de impacto socioambiental, foi desenhada uma matriz de priorização dos investimentos para essas obras, seguindo a lógica econômica de atratividade para o investidor privado e as diferentes modelagens de financiamento: serem financiadas pelo poder público, pela iniciativa privada ou mesmo a partir do modelo de Parceria Público-Privada (PPP), administrativa ou patrocinada. “Temos que acordar para a urgência dos investimentos em infraestrutura. Somos um dos países mais competitivos do mundo em diversos produtos. No entanto, basta sair da fábrica ou da fazenda e já começamos a perder competitividade”, afirma Olivier Girard.
 
O Projeto Norte Competitivo passa agora à fase de implantação, com a criação de uma força-tarefa com dedicação plena, formada por um grupo multidisciplinar, que elaborará e implementará um Plano de Ação conjunto. Isso tem como objetivo implantar os projetos, com cronograma e responsabilidades bem definidas, possibilitando a mobilização dos atores envolvidos – sejam os governos estaduais e federal, bancadas estaduais e federais, organismos estaduais e federais, na iniciativa privada envolvida, organizações não-governamentais e universidades. No curto prazo, elegeu-se uma lista de 34 projetos, totalizando R$ 6,8 bilhões em investimentos, que passarão a ser foco da força-tarefa a ser criada nos próximos meses.