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Como funciona a logística de eventos musicais


A morte de um cavalo dentro de um avião e a ameaça de atraso no cronograma de um grande show parecem não fazer parte da mesma história. Mas fazem. Oito horas depois do previsto, o avião que iria buscar em outra cidade os equipamentos necessários para montar a estrutura de um espetáculo foi liberado. Um imprevisto que poderia comprometer a logística e o planejamento do
evento e que testa a agilidade de empresas dedicadas a esse tipo de operação.

No estudo logístico de uma turnê, a largada é dada no momento do acerto com a companhia, geralmente empresas com divisões
especializadas nesse tipo de serviço. O primeiro passo, segundo o chefe de operações da Waiver Logistics, Marcello Romão, é verificar os itinerários e a viabilidade das rotas. A partir desse estudo, são contratadas transportadoras para carregarem os equipamentos. O modal varia conforme o trecho. Para uma turnê que inclua shows no Brasil, no Chile e no Peru, por exemplo, seria necessário contratar transporte rodoviário para o primeiro trecho, enquanto o segundo seria feito por via marítima.

A quantidade de carga também depende do evento. A gerente de operações da Sax Logística e Shows, Márcia Marques, diz que o volume transportado pela empresa, que trabalhou para shows como Coldplay e The Cardigans, já variou entre duas toneladas até um avião inteiro. A Waiver Logistics, que já trabalhou com shows como Oasis, Rolling Stones, Madonna e Bob Dylan, precisou de 250 carretas para transportar equipamentos do show do U2, além de ter contratado sete transportadoras diferentes para operar a logística do Cirque du Soleil.

Cuidados

Apontada por Romão como um grande avanço dos últimos anos, a criação dos cases próprios para transporte desses equipamentos facilita na hora do carregamento. “A mercadoria já sai do palco embalada e vai para o caminhão”, explica Romão. Feitos em metal ou madeira na parte exterior, os cases geralmente são revestidos com espuma de proteção, para melhor acomodação da carga. Há também compartimentos específicos para guardar roupas e cabos.

O principal cuidado, no entanto, é na hora de embarcar os cases no caminhão ou no contêiner. “O carregamento geralmente é feito pela própria equipe da banda ou do espetáculo”, diz Romão. Há certas recomendações que devem ser observadas, como colocar os cases mais pesados primeiro, ou a orientação da caixa, quando ela não pode ser virada. A amarração é outro detalhe importante para garantir a segurança da carga durante a movimentação.

A escolha do veículo também depende do tipo de equipamento. Há caminhões que não suportam o peso de determinados materiais, por isso o planejamento deve prever essa adequação. “Aparelhos eletrônicos, como os de vídeo, são sensíveis e devem ser transportados em veículos com suspensão a ar. Ainda mais nas estradas brasileiras, que não são muito boas”, detalha Romão.

Segurança e burocracia

O rastreamento das cargas é um recurso padrão nesse tipo de transporte, uma vez que são equipamentos de alto valor agregado. Mesmo assim, Romão relembra que a empresa já teve casos de roubo de caminhão, além de acidentes. Entre os imprevistos, até uma guerra civil que eclodiu na região ondeocorriam os carregamentos já quase prejudicou o planejamento. As rotinas de
viagem também são monitoradas pela empresa com a transportadora, garante Romão.

Em trechos onde não existe possibilidade de parada para descanso, são colocados dois motoristas. “A gente busca um tratamento especial. Motorista é nossa principal mão de obra”, detalha.

A parte burocrática também requer planejamento com antecedência. Em lugares onde há restrição de acesso a caminhões em
determinados horários, a empresa pode solicitar autorizações especiais para as autoridades locais. Quando a carga vem de fora do país, o desembaraço aduaneiro é feito no momento do desembarque e pode levar algum tempo. “Até fazemos uma pré-análise documental, mas a liberação é providenciada na chegada”, explica Márcia. A Receita Federal possui instruções normativas que visam a facilitar a admissão temporária de cargas para eventos culturais e esportivos e que guiam o processo nesses casos. “A Receita também é conhecedora da necessidade de tempo. Eu diria que é uma grande parceira”, avalia Romão.

Cartola – Agência de Conteúdo para TERRA