Home > Notícias > A logística reversa e suas oportunidades

A logística reversa e suas oportunidades


Para quem mora em Curitiba percebe o quanto de obras na construção civil está acontecendo, além da revitalização dos asfaltos e reorganização das estações tubo. A pergunta que fica é: para onde estão indo todos os entulhos destes trabalhos? Outra reflexão é a preocupação de saber para onde vai o óleo e o pneu que trocamos de nossos veículos e as embalagens vazias de agrotóxicos. A essas questões podemos refletir melhor sobre um assunto muito pertinente: a logística.

Para aqueles que pensam que a logística está somente voltada ao transporte, se engana. Ela é muito mais abrangente e atualmente está muito presente em nossas vidas gerando diversas oportunidades profissionais para aqueles que querem se especializar neste segmento.

Nos últimos anos, a logística nas empresas, chamada logística empresarial, vem sofrendo uma constante evolução, sendo considerado um dos principais elementos na elaboração do planejamento estratégico e muitas vezes responsável por enorme geração de vantagem competitiva às empresas. A partir dos anos 90 com a constante preocupação sobre a utilização dos recursos naturais, assim como o acúmulo de produtos industrializados nos grandes centros, as grandes empresas passaram a ser as culpadas pela sociedade por este problema. As grandes organizações passaram a ter uma nova preocupação: como seria possível encontrar a resolução para esta situação sem gerar aumento de custos e despesa? Com o advento deste cenário surgiu o conceito de logística reversa.

A logística reversa sempre existiu nas empresas, só que limitada a duas áreas: a dos produtos que retornam sem serem consumidos, seja por pequenos defeitos ou por terem se tornado obsoletos no mercado, o que se convencionou chamar de logística reversa de pós-venda; e a dos que foram consumidos, mas deixaram resíduos utilizáveis. Nesta categoria, há dois tipos de produtos: os, cujos resíduos, têm valor agregado e econômico importantes, por isso o mercado os faz voltar sem muita dificuldade, como metais, peças de motores e equipamentos de medicina, e os que não retornam, pois seus resíduos não têm valor agregado suficiente e não conseguem remunerar a cadeia de retorno. É o caso típico de plásticos, embalagens Tetra Pak e entulhos de obras. Reverter esse quadro será o desafio da cadeia produtiva da construção civil.

A lei 12.305, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, entrou em vigor a partir de decreto publicado em 2010. Por enquanto, apenas seis setores têm obrigação de cumpri-la. São os de óleos lubrificantes, agrotóxicos, pneus, pilhas e baterias, lâmpadas fluorescentes e de produtos eletrônicos. Até 2014, outros setores, entre eles o da construção civil, terão de passar a obedecer a legislação. Por enquanto, eles encontram-se no estágio de acordo setorial, que envolve a negociação entre empresas e governo, no sentido de equacionar a logística reversa de seus produtos.

Nos próximos dois anos, a expectativa é que a lei seja implementada gradativamente. Segundo o presidente do Conselho de Logística Reversa do Brasil (CLRB) Paulo Roberto Leite, não haveria como o país impor a legislação assim que ela foi criada. Ele explica que é preciso compreender a complexidade que é fazer funcionar a Política Nacional de Resíduos Sólidos em um país com uma área superior a oito mil quilômetros quadrados e regiões muitas vezes inacessíveis. Para ele, antes, é preciso organizar pontos de recepção, os meios de transporte mais adequados, as armazenagens dos produtos, o reaproveitamento, enfim, toda a cadeia de logística reversa precisa ser equacionada.

No que tange à questão da construção civil ele lembra que até 2014 os entulhos de obras não poderão mais se misturar aos resíduos domiciliares – comumente chamados de lixões no Brasil – e terão de ter depósitos específicos. Por isso, há outros setores que podem servir de exemplo para que a construção civil se adapte à Política Nacional de Resíduos Sólidos. Há áreas que, por motivos legais, estão trabalhando muito bem. É o caso de retorno de embalagens vazias de agrotóxicos. Desde 2000, as indústrias usam essa gestão como benchmarking nacional e internacional. Hoje, a cadeia produtiva do agrotóxico retorna 95% das embalagens e tem mais de 500 postos de coleta no país.

Concordo com o presidente da CLRP quando diz que se a construção civil souber implantar a sua política de logística reversa poderá obter ganhos econômicos. Segundo dados do CLRB e da Associação Brasileira de Logística, a logística reversa movimenta atualmente no país cerca de US$ 20 bilhões por ano. Esse valor poderia crescer se o volume de empresas preocupadas com o reuso de materiais fosse maior. Hoje, apenas 5% das companhias instaladas no Brasil têm essa preocupação. Além disso, somente 10% dos produtos vendidos retornam para serem total ou parcialmente reutilizados.

Como pudemos perceber, as oportunidades são muitas para aqueles que estão pretendendo ou já estudam logística, pois a falta destes profissionais, mais especificamente em logística reversa, faz esta área ser extremamente atraente.

Marco Antonio de Andrade
Coordenador dos cursos de Graduação Tecnológica da Faculdade Estácio de Curitiba

Fonte: http://www.bemparana.com.br/noticia/250926/a-logistica-reversa-e-suas-oportunidades