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Entrada da Cosan na ALL é essencial para eficiência


Uma possível fusão entre a operadora de ferrovias América Latina Logística (ALL) e o braço de logística da gigante sucroalcooleira Cosan é essencial para que as companhias ganhem eficiência e encerrem uma disputa judicial prejudicial para ambas.

As discussões entre as duas empresas vieram à tona nessa semana, com a Cosan, maior produtora de açúcar e álcool do país, afirmando em comunicado que sua controlada Rumo Logística negocia uma possível fusão com a ALL. A operadora de ferrovias, contudo, disse que um acordo societário seria “apenas uma das alternativas” em avaliação para solucionar a disputa judicial.

A Rumo, que presta serviços integrados de transporte multimodal, de armazenagem e de embarque dos produtos, complementa a estratégia da Cosan, que busca firmar-se como empresa de infraestrutura, diversificando operações inicialmente focadas em açúcar, etanol e cogeração de energia.

Quando se fala em uma união, como está em discussão, o que se vê são benefícios para as duas empresas, disse o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Paulo Fleury.

“Conceitualmente, faz todo o sentido, porque a ALL é uma prestadora de serviços, e sozinha não tem condições de ter grandes volumes de carga… Com a Rumo, ela vai ter mais disponibilidade (de carga), e isso vai ser mais produtivo para as duas.” Outro especialista com larga experiência em logística do setor sucroalcooleiro, que pediu para não ser identificado, foi mais enfático.

“A Cosan sabe que se ela não comprar (parte) da ALL, o sistema Rumo Logística não vai funcionar. É uma busca por melhor performance. A Rumo é muito eficiente, enquanto a ALL tem menor produtividade”, afirmou.

Solução para Disputa

Um possível acordo entre ALL e Rumo Logística também é visto como a melhor opção para colocar fim à disputa judicial entre ambas sobre o cumprimento do contrato firmado em 2009.

“Há riscos muito grandes nessa disputa. O acordo traz muitos danos para a ALL, que teria que dar conta de carga em um nível que hoje ela não consegue atender. Ela seria obrigada a pagar multas para a Rumo e garantir o transporte ferroviário”, disse a analista Karina Freitas, da corretora Concórdia, acrescentando que o fim do contrato seria prejudicial também para a Rumo.

“Isso não seria bom para Rumo e Cosan porque a ferrovia da ALL é o meio mais importante de transporte.” O acordo de 2009 estabelecia que a ALL transportaria açúcar a granel e outros derivados para Cosan e, em contrapartida, receberia investimentos em sua malha ferroviária.

Já a ALL teria que garantir o transporte de um volume mínimo de 1,09 milhão de toneladas por mês a partir do quarto ano do contrato, além de oferecer tarifas competitivas em relação ao modal rodoviário.

Porém, em junho de 2013, a Cosan deu declarações de que a ALL não estava cumprindo os volumes contratados, por estar priorizando o transporte de grãos. A operadora ferroviária afirmou, por sua vez, que não priorizava uma carga em detrimento de outra, mas admitiu que restrições de capacidade impediram o atendimento de 100 por cento dos volumes previstos em contrato.

Em outubro do mesmo ano, a ALL adotou medidas legais contra a Rumo que poderiam levar a extinção do contrato, enquanto a Cosan entrou com pedido de arbitragem para fazer valer seus direitos.

O imbróglio entre as duas companhias ocorreu em meio a decisão da Cosan, em agosto de 2013, de encerrar as negociações iniciadas no ano anterior para a aquisição de 38,980 milhões de ações da ALL, em um negócio estimado em cerca de 900 milhões de reais.

A atual negociação ocorre em um cenário diferente, com as ações da ALL valendo bem menos que naquele ano, ressaltou o analista da XP Investimentos, William Alves.

Embora o mercado avalie que a ALL tem boa geração de caixa para investir em suas ferrovias, os problemas enfrentados em sua malha, evidenciados com o descarrilamento de um trem em São José do Rio Preto no fim do ano passado, têm elevado as especulações sobre uma possível fusão com a Rumo.

“Um fato positivo (de uma fusão), seria um aporte de capital na ALL. Acredito que a empresa ficaria mais forte e teria capacidade de maior alavancagem”, disse um analista que pediu para não ser identificado.

Após o acidente fatal no interior paulista, o governo federal acusou a empresa de não ter feito investimentos e afirmou que aumentaria a fiscalização sobre a companhia.

Fonte: http://exame.abril.com.br/