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Out 2019 – Gestão da logística de homecare: uma discussão crítica de modelos e métodos


Adaptado do original de: Elena Valentina Gutierrez e Carlos Julio Vidal

Os serviços de Cuidados de Saúde Domiciliares (Homecare) surgem por volta de 1950 como uma alternativa para reduzir os custos gerais dos sistemas de saúde, melhorar a utilização de recursos e a qualidade de vida dos pacientes.
Com o passar do tempo, esses serviços representam um setor em crescimento no negócio de serviços médicos, devido a fatores sociais e econômicos que aceleraram sua expansão. Seus pilares de sustentação são, o aumento da esperança de vida e o envelhecimento da população (um dos principais motivos que influenciam a procura por cuidados de saúde).
Outra realidade são os recursos limitados para os cuidados de saúde e os desafios dos prestadores de cuidados da saúde que diariamente repensam os custos dos serviços ofertados, tentando conceber uma forma mais eficiente e eficaz de operar os sistemas ligados à prestação de cuidados de saúde.
Ofertar a possibilidade de o paciente receber cuidados médicos em casa em vez de um hospital, resulta em um menor custo geral para o sistema de saúde e esses serviços permitem melhorar a qualidade de vida dos pacientes, ao mesmo tempo que se reduz o período de recuperação.
O segmento industrial envolvido nesses serviços é composto principalmente por empresas envolvidas na prestação de cuidados qualificados (técnicos de enfermagem, fisioterapeutas, psicólogos etc.) ou cuidados médicos em casa (sob a supervisão de um médico). Essa Cadeia de Suprimentos pode ser vista como um sistema de serviços de saúde que inclui o paciente; a pessoa que pede o atendimento domiciliar (o paciente, sua família, o hospital ou o médico); profissionais envolvidos na implantação da Logística (responsável pela avaliação das necessidades materiais, humanas e farmácia) ou no aspecto financeiro do atendimento domiciliar (seguro de saúde); bem como, a equipe de atendimento domiciliar (enfermeiros, médicos, terapeutas, entre outros). A coordenação dessa rede de serviços de saúde é uma tarefa complexa e os gestores têm que enfrentar muitas decisões logísticas ao projetar, planejar e operar o sistema.
Este é nosso tema do mês de Setembro: Gestão da logística de homecare: uma discussão crítica de modelos e métodos.

1. Introdução:

A maioria das pesquisas encontradas na literatura dedicada aos serviços de homecare refere-se a estudos baseados em países desenvolvidos quanto às tomadas de decisões operacionais. Brailsford e Vissers (2011) mostram o aumento do desenvolvimento de técnicas de Pesquisa de Operações em cuidados de saúde na Europa, onde os serviços de homecare tornaram-se um elemento central nas políticas de saúde.
Apesar dessas conquistas, nenhum estudo científico focado no projeto, planejamento ou operação do referido serviço foi realizado em países em desenvolvimento. A maioria dos países em desenvolvimento enfrenta grave crise de cuidados de saúde e o dilema de limitações orçamentárias muito restritivas para os gastos com saúde com uma população crescente. Os sistemas de saúde variam entre os países e o estado atual da arte em homecare não pode ser generalizado devido a diferenças nas políticas de saúde e estruturas de financiamento.
Essa situação sugere que modelos e métodos de gerenciamento logístico devam ser estudados e desenvolvidos para se conseguir redes de oferta de homecare mais eficientes. Nosso boletim desse mês visa fornecer uma revisão crítica dos modelos e métodos usados para apoiar as decisões logísticas em homecare. Para isso, um quadro de referência é proposto primeiro para identificar perspectivas de pesquisa no campo. Em seguida, é apresentada uma revisão da literatura existente de modelos e métodos utilizados para apoiar decisões logísticas baseadas no quadro proposto. Com base no estado da arte identificada, uma análise crítica da revisão é fornecida, apontando características importantes que têm recebido pouca atenção na literatura.

1.1. Framework proposto para o homecare:
São propostas, três dimensões diferentes a partir das quais a gestão logística pode ser vista (figura 1).

fig 1

Figura 1: Estrutura de gestão logística de cuidados de saúde (homecare). Fonte: os autores mencionados.
Primeiramente, o horizonte de planejamento é identificado de acordo com a duração e o impacto das decisões de planejamento; em segundo lugar, as funções logísticas são diferenciadas por grupos de decisões de gestão e; finalmente, os processos de serviços são definidos como o conjunto de etapas realizadas quando o serviço é entregue a um paciente.
Na gestão logística do homecare, existem três níveis distintos de planejamento, dependendo do horizonte de tempo – estratégico, tático e operacional – o nível estratégico considera horizontes de tempo de mais de um ano e inclui a concepção e alocação de recursos duradouros durante longos períodos. As decisões a este nível incluem a localização e a atribuição de instalações centrais, alcance municipal ou estadual, tamanho da frota e seleção, níveis de pessoal, e seleção de fornecedores.
O nível tático envolve decisões de médio prazo que geralmente são feitas por um ano. A atribuição da frota para o alcance municipal determinado, agendamento de turnos e alocação de pessoal, bem como, a definição de políticas de estoque (consideradas táticas).
O nível operacional está relacionado com decisões de curto prazo que precisam ser tomadas diariamente. Essas decisões incluem a atribuição e roteamento da equipe, bem como o controle de estoque.
Um quarto nível de planejamento foi recentemente agregado – o que ocorre em tempo real, e refere-se a situações de tomada de decisão em que as operações devem ser realizadas ou alteradas em um curto espaço de tempo, de acordo com a execução real dos processos de serviço do sistema.
Para cada uma das funções logísticas, os níveis acima mencionados definem uma hierarquia entre as decisões de gestão que impõem restrições em níveis de planejamento mais baixos e influenciam o desempenho da rede de serviços de homecare.
Por exemplo, na gestão de transportes, o tamanho e a seleção da frota utilizada pela equipe médica para visitar os pacientes é uma decisão de longo prazo que influencia a forma como a frota é então atribuída aos distritos dos pacientes no médio prazo.
Equivalentemente, a atribuição da frota para os roteiros selecionados influencia as decisões de roteamento do pessoal no curto prazo. Essa hierarquia sugere que modelos e métodos usados para apoiar decisões logísticas no nível operacional não terão um impacto significativo no desempenho do sistema, se as decisões tomadas nos níveis superiores não forem baseadas em métodos adequados para projetar a rede e atribuir recursos.
2. Visão geral da literatura existente de modelos e métodos utilizados para apoiar decisões logísticas em homecare.
Discutiremos os problemas logísticos, seguindo a cronologia do horizonte de planejamento; dessa forma:
2.1. O nível estratégico corresponde às decisões de projeto e planejamento,
2.2. O nível tático corresponde ao planejamento e alocação de recursos e
2.3. O nível operacional corresponde ao agendamento de serviços.
A principal contribuição desta revisão é a classificação dos problemas logísticos de acordo com o quadro proposto e a identificação das características dos modelos e métodos, incluindo os autores, o tipo de problema, as características problemáticas, o objetivo(s), a estrutura do modelo, e os métodos de solução.
(Continua no próximo mês)
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OMC


Boa leitura!
Bibliografia:
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