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Maio 2016 – O que leva uma empresa a encerrar suas atividades?


O fracasso de uma empresa, seja por insolvência ou falência, é um tema que motiva os pesquisadores de tempos em tempos, sobretudo, quando as crises aprofundam os problemas e a concorrência diversas áreas ao longo do tempo. No Brasil, pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que, nos últimos anos, 96% dos empregos criados foram gerados por pequenas e médias empresas, demonstrando a representatividade e responsabilidade deste segmento na geração de renda para a economia do país. Além disso, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas Empresas (SEBRAE), em relatório de pesquisa concluído em 2004, contendo os fatores condicionantes e taxas de mortalidade das empresas brasileiras; identifica que 49% das empresas encerram suas atividades com até dois anos de existência, 56% com até três anos de existência e 60% não sobrevivem além dos quatro anos.

Nos Estados Unidos, a cada ano, aproximadamente cem mil empresas pedem falência. A maioria delas são empresas pequenas e privadas, mas aproximadamente 1% das empresas com ações em bolsa também sucumbe a cada ano (BREALEY; MYERS, 2005).

Apesar de se encontrar na literatura justificativas de ordem macro e microeconômicas sobre empresas que nascem, crescem e se mantêm saudáveis, e outras que nascem, crescem e morrem repentinamente, o tópico de previsão de insolvência tem se tornado uma importante área de estudos dentro das Finanças Corporativas. Neste mês, abordaremos os motivos que levam uma empresa encerrar suas atividades.

  1. INTRODUÇÃO:

A falência é uma decisão crítica para os negócios em que as empresas declaram a sua incapacidade de satisfazer as suas obrigações financeiras e obter proteção dos credores. Contrariamente à opinião pública, a falência não é o desaparecimento da empresa. Em vez disso, muitas jurisdições ao redor do mundo oferecem duas alternativas para levar à falência as empresas: liquidação e reorganização. Enquanto a liquidação de fato traz a falência da empresa ao fim, a reorganização é um processo desenvolvido para fornecer saúde operacional às empresas com alívio de seus encargos financeiros e para continuar operando.

Ooghe e Waeyaert (2006), considerando fatores financeiros e não financeiros, propõem um modelo teórico em que são identificadas cinco categorias principais de causas de insolvência. Como segue:

  1. O ambiente geral – esta causa refere-se a diferentes fatores (econômicos, políticos, sociais e tecnológicos) ou questões relacionadas com o comportamento do governo, o funcionamento dos mercados e instituições financeiras, bem como, a política do Banco Central.
  2. O ambiente imediato – que envolve o relacionamento com as partes interessadas como: clientes, fornecedores, concorrentes, bancos, instituições de crédito ou acionistas.
  3. As características de gestão ou o empreendedorismo –  que incluem motivação, habilidades, qualidades, e outras características pessoais dos gestores. Normalmente, as características pessoais são consideradas o fator mais preponderante no fracasso de uma empresa.
  4. A política corporativa – que abrange as estratégias adotadas sobre diferentes atividades dentro da empresa como investimentos (em inovação e tecnologia), marketing, vendas, mas também operações do dia a dia, questões administrativas, recursos financeiros e humanos, gestão e governança corporativa.
  5. As características da empresa – que incluem o tamanho, a maturidade ou o tipo de indústria a que as empresas pertencem.

Ao analisar a falência, normalmente, os estudos mostram que há pelo menos dois ou mais fatores que contribuem para a insolvência. (figura 1)

fig 1 maio

Os estudos de casos de insolvência têm sido analisados em termos de previsão, por isso, eles consideraram empresas ainda não insolventes, mas próximas a este estágio. Uma amostra dessa análise utilizada consistindo de grandes e médias empresas que se tornaram insolventes em 2011 e 2012 com base em 650 processos de falência (figura acima).

As causas de insolvência das empresas indicam como a principal causa, o alto grau de endividamento; outras causas comuns que geraram os desequilíbrios das empresas referem-se a uma redução da demanda, perdas contínuas da empresa, um grau de influência sobre capacidade contributiva real, e decisões erradas da equipe de gestão.

Embora a queda na demanda seja a principal causa apresentada pelos gestores, uma análise cuidadosa mostra que ela está em 3º lugar, enquanto em segundo lugar situam-se as decisões erradas da equipe de gestão.

  1. Análise

As análises verificam que há muito poucas situações em que a insolvência de uma empresa tem uma única causa. Na maioria dos casos, é causada por 2-3 fatores agregados que se sobrepõem e combinam decisões de gestão com as circunstâncias externas. Mas, o mais grave é que as equipes de gestão não são capazes de detectar ou não admitem situações de insolvência no tempo; mais de 90% das empresas são declaradas insolventes em pelo menos 18 meses após o aparecimento deste estado, o que diminui as chances de recuperação da empresa.

A redução na demanda é uma causa específica para a atividade comercial, enquanto a falta de rentabilidade afeta com frequência a produção. A perda continuada de vendas e/ou mercado, e seus efeitos de desequilíbrio em cadeia no negócio, onde a insolvência de uma empresa tem um impacto direto sobre os outros (5%). Em 4% dos casos, perdas de contratos importantes, a concorrência desleal ou morte do acionista principal foram os principais motivos que levaram à insolvência de uma empresa.

Aprofundando o estudo dos relatórios sobre as causas e circunstâncias da falência, notou-se que em 70% dos casos, o aumento da dívida foi o principal motivo para recorrer à insolvência das empresas analisadas. Os restantes 30% ocorreram por falta de investimento, representada pela diminuição dos ativos detidos por grandes empresas ou perda ou cancelamento de contratos com determinados clientes, geralmente as grandes.. Mais de 50% das empresas analisadas relatou nas demonstrações financeiras anuais de 2012 diminuições no volume de negócios de aprox. 12%, redução de renda diferido de aprox. 8% e reduções nos estoques realizada de cerca de 7%. Ao mesmo tempo, o nível de endividamento entre o total de dívida e ativos totais no final do exercício de 2012 aumentou em cerca de 25% em relação a 2011. Uma vez que a dívida em 2012 e o aumento do investimento em ativos diminuiu, podemos dizer que estamos em a situação de má gestão.

Perda de encomendas ou cancelamento de contratos existentes com clientes importantes foi outro motivo que levou à abertura do processo de insolvência (mais de 60% das empresas analisadas perderam contratos com os principais clientes em 2012). Uma vez que a percentagem de ativos correntes aumentaram em 2012, podemos dizer que os produtos fabricados pelas empresas estudadas mantiveram-se em estoque, por não terem sido capazes de perceber que preferências dos clientes mudou, na direção a produtos mais baratos similares de mercados estrangeiros.

Já Roggia et al (2008) afirmam que “após exame da amostra das empresas falidas e das empresas não falidas, centraram a análise em cinco hipóteses testáveis”:

Hipótese 1 Empresas menores e mais jovens têm mais probabilidade de falir do que outras empresas
Hipótese 2 Empresas de manufaturas são menos prováveis de falir do que outras empresas
Hipótese 3 Empresas com proprietários e administradores com pouco conhecimento são mais prováveis de falir do que outras empresas
Hipótese 4 Empresas com menos acesso ao capital são mais prováveis de falir do que outras empresas
Hipótese 5 Empresas que enfrentam mercados limitados ou deteriorados são mais prováveis de falir do que outras empresas

Quadro – Hipótese da pequisa de Carter e Van Auken

Fonte: Carter e Van Auken (2006)

Roggia et al, através de pesquisa de campo, evidenciam na tabela abaixo, os rankings médios dos 25 problemas contributivos à falência respondidos pelas empresas falidas e empresas não falidas e suas respectivas diferenças. As seis áreas de problemas para as empresas falidas que são significativamente maiores (em importância) que o ranking geral médio de 2,75 são:

(1) falta de dinheiro = 4,14;

(2) fluxo de caixa precário = 3,67;

(3) disponibilidade de empréstimos pessoais para o negócio = 3,25;

(4) falta de um mercado-alvo específico = 3,00;

(5) garantias pessoais para empréstimos pessoais = 3,00;

(6) vendas inadequadas (inadimplência e atrasos de pagamento) = 2,94.

Observa-se que, para as empresas não falidas, há sete variáveis de impacto em que o ranking médio das respostas é significativa ente maior (em importância) que ranking geral médio de 3,06:

(1) falta de dinheiro;

(2) fluxo de caixa precário;

(3) tributação elevada;

(4) vendas inadequadas (inadimplência e atrasos de pagamento);

(5) condições competitivas difíceis;

(6) regulamentações federais;

(7) histórico financeiro precário (cadastro)

Variáveis Falida Não Falida
Falta de dinheiro 4,14* 4,51*
Fluxo de caixa precário 3,67* 4,38*
Disponibilidade de empréstioms pessoais para o negócio 3,25* 2,33**
Garantias pessoais para empréstimos pessoais 3,00* 2,30**
Falta de mercado-alvo específico 3,00* 2,44**
Vendas inadequdas (inadimplência e atrasos de pagamento) 2,94* 3,69*
Tributação elevada 2,69* 4,00*
Histórico financeiro precário (cadastro) 2,67** 3,10*
Condições competitivas difíceis 2,55** 3,67*
Despesas operacionais elevadas 2,37* 3,00**
Alto custo dos empréstimos 2,18* 3,03**
Crescimento rápido (desequilíbrio) 1,92** 2,38**
Regulamentações fedeirais 1,78** 3,61*
Fraude ou desastre 1,63** 2,21*
Problemas pessoais 2,59 3,05
Estretégia promocional ineficaz 2,69 2,39
Falta de conhecimento sobre precificação 2,31 2,64
Problemas com fornecedores 2,59 2,66
Problemas com estoque (excesso ou falta) 2,82 2,87
Falta de um plano de negócios a longo prazo 3,39 3,36

Falta de habilidades grenciais

2,57 2,95
Economia pobre 2,69 3,23
Disponibilidade de empréstimos empresariais 3,37 3,10
Disponibilidade de capital próprio para o negócio 3,71 3,57
Ranking Médio 2,75 3,06

OBS: Um (*)asterisco indica que o valor estatístico de z é significante e que a média das respostas está acima (com um nível de significância 5% ou melhor) do ranking médio de todas as questões. Dois (**) asteriscos indicam que a média é estatísticamente significativa abaixo do ranking médio de todas as respostas.

 

Ao se comparar os principais problemas apontados pelas empresas falidas e não falidas, observa-se conforme a Tabela acima, que além dos problemas em comum como: falta de dinheiro, fluxo de caixa precário e vendas inadequadas, outros fatores tais como: disponibilidade de empréstimos pessoais para o negócio; garantias pessoais para empréstimos pessoais; tributação elevada; e histórico financeiro precário, estão diretamente ligados à insolvência associada a fluxos monetários das empresas.

Conclusões:

Enquanto que para a pequena e média empresas, algumas das principais causas de falência são planejamento pobre, falta de financiamento, falta de negócios experiência e falta de disciplina pessoal. Qualquer empreendedor que esteja pensando em abrir seu próprio negócio deve ter não só a visão dos objetivos , metas e estratégia da empresa, mas um forte plano de negócio.

Uma parte importante deste plano de negócios deve ser uma estratégia de saída, caso o negócio venha a passar por problemas que não permitam ter continuidade. Nenhuma empresa deve começar com dinheiro suficiente apenas para realmente iniciar um negócio, muitos empresários não percebem que leva de dois a três anos para a maioria das empresas gerar lucro.

Mesmo que você seja seu próprio patrão, a auto-disciplina torna-se um elemento muito importante para o sucesso de um pequeno negócio. Junto com a auto-disciplina, um indivíduo deve possuir experiência na indústria em que ele está tentando estabelecer seus negócios.

Nas Grandes empresas, uma das principais lições a serem aprendidas é começar a entender os sintomas, a partir de paradas na cadeia de suprimentos e a velocidade de resposta da empresa a essas paradas – ela é crítica!.

O tempo entre uma interrupção e sua descoberta é o primeiro elemento – por isso é importante a utilização de soluções de TI para detectar quando uma interrupção ocorre. O segundo elemento do tempo de resposta é o tempo de recuperação da parada a partir da descoberta do problema (financeiro, vendas, fornecedor, contábil, determinações governamentais, concorrência, entre tanto outros). As empresas que já estabeleceram planos de contingência e soluções de visibilidade, serão capazes de se recuperar mais rapidamente e rapidamente mitigar o impacto dessas perturbações.

A base para garantir a continuidade de uma empresa no mercado é investir numa cadeia de suprimentos contínua que inclui melhoria do conhecimento da natureza das ameaças e treinamento para saber quando e como responder.

Melhor visibilidade de eventos é um constante desafio, e há uma pressão sobre as empresas para que elas identifiquem soluções que possam auxiliar a suportar e desenvolver essas capacidades.

Bibliografia:

BREALEY, Richard A, MYERS, Stewart. Finanças Corporativas: Financiamento e Gestão de Risco. Bookman, 2005.

 

OOGHE, H., DE PRIJCKER, S. (2006), “Failure processes and causes of company bankruptcy: a typology, Department of Accountancy & Corporate Finance”, Ghent University, Working Paper, No. 388.

 

ROGGIA, Antônio Luis Zenkner; COLOMBO, Jéfferson Augusto; TERRA, Paulo Renato Soares,  Determinantes da falência de empresas do município de Novo Hamburgo; disponível em http://www.anpecsul2011.ufsc.br/?go=download&path=2&arquivo=4_530927080.pdf.

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